segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Introdução ao trabalho mediúnico

Responsabilidade Mediúnica*
Manoel Philomeno de Miranda

Uma reunião mediúnica séria, à luz do Espiritismo, é constituída por um conjunto operacional de alta qualidade, em face dos objetivos superiores que se deseja alcançar.
Tratando-se de um empreendimento que se desenvolve no campo da energia, requisitos graves são exigidos, de forma que sejam conseguidas as realizações, passo a passo, até a etapa final.
Não se trata de uma atividade com características meramente transcendentais, mas de um labor que se fundamenta na ação da caridade, tendo-se em vista os Espíritos aos quais é direcionado.
Formada por um grupamento de pessoas responsáveis e conscientes do que deverão realizar, receberam preparação anterior, de modo a corresponderem aos misteres a que todos são convocados para exercer, no santificado lugar em que se programa a sua execução.
Deve compor-se de conhecedores da Doutrina Espírita e que exerçam a prática da caridade sob qualquer aspecto possível, de maneira a conduzirem créditos morais perante os Soberanos Códigos da Vida, assim atraindo as Entidades respeitáveis e preocupadas com o bem da Humanidade.
 Resultado de dois aglomerados de servidores lúcidos – desencarnados e reencarnados – que têm como responsabilidade primordial manter a harmonia de propósitos e de princípios, a fim de que os labores que programam sejam executados em perfeito equilíbrio.
Para ser alcançada essa sincronia, ambos os segmentos comprometem-se a atender os compromissos específicos que devem ser executados.
Aos Espíritos orientadores compete a organização do programa, desenhando as responsabilidades para os cooperadores reencarnados, ao tempo em que se encarregam de produzir a defesa do recinto, a seleção daqueles que se deverão comunicar, providenciando mecanismos de socorro para antes e depois dos atendimentos.
Confiando na equipe humana que assumiu a responsabilidade pela participação no trabalho de graves conseqüências, movimentam-se, desde às vésperas, estabelecendo os primeiros contatos psíquicos daqueles que se comunicarão com os médiuns que lhes servirão de instrumento, desenvolvendo afinidades vibratórias compatíveis com o grau de necessidade de que se encontram possuídos.
Encarregam-se de orientar aqueles que se comunicarão, auxiliando-os no entendimento do mecanismo mediúnico, para evitar choques e danos à aparelhagem delicada da mediunidade, tanto no que diz respeito às comunicações psicofônicas atormentadas quanto às psicográficas de conforto moral e de orientação.
Cuidam de vigiar os comunicantes, poupando os componentes da reunião de agressões e de distúrbios defluentes da agitação dos enfermos mentais e morais, bem como das distonias emocionais dos perversos que também são conduzidos ao atendimento.
Encarregam-se de orientar o critério das comunicações, estabelecendo de maneira prudente a sua ordem, para evitar tumulto durante o ministério de atendimento, assim como impedindo que o tempo seja malbaratado por inconseqüência do padecente desencarnado.
Nunca improvisam, porquanto todos os detalhes do labor são devidamente examinados antes, e quando algo ocorre que não estava previsto, existem alternativas providenciais que impedem os desequilíbrios no grupo.
Equipamentos especializados são distribuídos no recinto para utilização oportuna, enquanto preservam o pensamento elevado ao Altíssimo...
Concomitantemente, cabem aos membros reencarnados as responsabilidades e ações bem definidas, para que o conjunto se movimente em harmonia e as comunicações fluam com facilidade e equilíbrio. Todo o conjunto é resultado de interdependência, de um como do outro segmento, formando um todo harmônico.
Aos médiuns é imprescindível a serenidade interior, a fim de poderem captar os conteúdos das comunicações e as emoções dos convidados espirituais ao tratamento de que necessitam.
A mente equilibrada, as emoções sob controle, o silêncio íntimo, facultam o perfeito registro das mensagens de que são portadores, contribuindo eficazmente para a catarse das aflições dos seus agentes.
O médium sabe que a faculdade é orgânica, mantendo-se em clima de paz sempre que possível, não apenas nos dias e nas horas reservadas para as tarefas especiais de natureza socorrista, porquanto Espíritos ociosos, vingadores, insensatos que envolvem o planeta encontram-se de plantão para gerar dificuldades e estabelecer conflitos entre as criaturas invigilantes.
Por outro lado, o exercício da caridade no comportamento normal, o estudo contínuo da Doutrina e a serenidade moral, são-lhe de grande valia, porque atraem os Espíritos nobres que anelam por criar uma nova mentalidade entre as criaturas terrestres, superando as perturbações ora vigentes no planeta.
Não é, porém, responsável somente o medianeiro, embora grande parte dos resultados dependam da sua atuação dignificadora, o que lhe constituirá sempre motivo de bem-estar e de felicidade, por descobrir-se como instrumento do amor a serviço de Jesus entre os seus irmãos.
Aos psicoterapeutas dos desencarnados é impositivo fundamental o equilíbrio pessoal, a fim de que as suas palavras não sejam vãs, e estejam cimentadas pelo exemplo de retidão e de trabalho a que se afervoram.
O seu verbo será mantido em clima coloquial e sereno, dialogando com ternura e compaixão, sem o verbalismo inútil ou a presunção salvacionista, como se fosse portador de uma elevação irretocável.
Os sentimentos de amor e de misericórdia igualmente devem ser acompanhados pelos compromissos de disciplina, evitando diálogos demorados e insensatos feitos de debates inconseqüentes, tendo em vista que a oportunidade é de socorro e não de exibicionismo intelectual.
O objetivo da psicoterapia pela palavra e pelas emanações mentais e emocionais de bondade não é o de convencer o comunicante, mas o de despertá-lo para o estado em que se encontra, predispondo-o à renovação e ao equilíbrio, nele se iniciando o despertamento para a vida espiritual.
Conduzir-se com disciplina moral, no dia-a-dia da existência, é um item exigível a todos os membros da grei, a fim de que a amizade, o respeito e o apoio dos Benfeitores auxiliem-nos na conquista de si mesmos.
Numa reunião mediúnica séria, não há lugar para dissimulações, ressentimentos, antipatias, censuras, porque todos os elementos que a constituem têm caráter vibratório, dando lugar a sintonias compatíveis com a carga emocional de cada onda mental emitida.
Desse modo, não há porque alguém preocupar-se em enganar o outro, porquanto, se o fizer, a problemática somente a ele próprio perturbará.
À equipe de apoio se reservam as responsabilidades da concentração, da oração, da simpatia aos comunicantes, acompanhando os diálogos com interesse e vibrando em favor do enfermo espiritual, a fim de que possa assimilar os conteúdos saudáveis que lhe são oferecidos.
Nunca permitir-se adormecer durante a reunião, sob qualquer justificativa em que o fenômeno se lhe apresente, porque esse comportamento gera dificuldades para o conjunto, sendo lamentável essa autopermissão...
Aos médiuns passistas cabem os cuidados para se manterem receptivos às energias saudáveis que provêm do Mundo Maior, canalizando-as para os transeuntes de ambos os planos no momento adequado.
Todo o movimento entre as duas esferas de ação deve acontecer suavemente, como num centro cirúrgico, que o é, de modo a refletir-se na segurança do atendimento que se opera.
Os círculos mediúnicos sérios, que atraem os Espíritos nobres e que encaminham para os seus serviços aqueles desencarnados que lhes são confiados, não podem ser resultado de improvisações, mas de superior programação.
Os membros que os constituem estarão sempre atentos aos compromissos assumidos, de forma que possam cooperar com os Mentores em qualquer momento que se faça necessário, mesmo fora do dia e horário estabelecidos.
Pontualidade de todos na freqüência, cometimento de conduta no ambiente, unção durante os trabalhos e alegria por encontrar--se a serviço de Jesus, são requisitos indispensáveis para os resultados felizes de uma reunião mediúnica séria à luz do Espiritismo.


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*Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 28 de agosto de 2007, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia. Publicada em Reformador. Rio de Janeiro: FEB. Ano125. Nº 2.144.  Novembro 2007, p. 414-416.

PENSAR NA MORTE É VIDA!

   "Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a sua casa." JESUS (Mt 24, v.42-43)

    Pensar a respeito da morte, ou melhor dizendo, desencarne, é pensar na vida. É melhorar a vida, o modo de ver a vida, o modo de viver. É aferir valores e viver de acordo com eles. Como? Os orientais explicam.


   Os tibetanos meditam sobre a morte
    (B. Alan Wallace, in “Budismo com atitude – o treinamento tibetano da mente em 7 etapas”, pág.30-33).


A meditação sobre a natureza da rude e sutil impermanência é também fortemente enfatizada na tradição budista. Indo mais fun­do na natureza da impermanência, os tibetanos meditam sobre a morte.

Existe uma objeção razoável à meditação sobre a morte. Como estamos vivos agora, por que não prestar atenção ao fato de estarmos vivos e deixar a meditação sobre a morte para quando estivermos morrendo? Afinal, quando chegar o seu momento de morrer, você não vai querer ficar nostálgico sobre a vida.

A razão da meditação sobre a morte não é estragar a felicida­de, mas encontrá-Ia. Os seres humanos tendem a fazer várias maldades, e as religiões do mundo assumiram a responsabilida­de de reformar os humanos para melhor (sem misturar os resul­tados!). Como a maior parte do nosso comportamento habitual não é boa, temos de ser persuadidos a melhorá-Ia. O medo é um método muito eficaz de persuasão. As autoridades religiosas têm, tradicionalmente, tentado persuadir as pessoas a serem boas não somente pelo medo da morte, mas pelo medo do desconhecido e pelo medo do enorme desconhecido, a vida após a morte. As doutrinas religiosas sobre a morte são propositalmente assusta­doras.

O Buda afirmava que o propósito do seu ensinamento sobre a morte não era assustar as pessoas para elas serem boas, mas prepará-Ias para a morte nesta vida. Os ensinamentos não se des­tinavam especificamente a assustar, mas se já existe o medo da morte, melhor conhecer do que temer, comprometer-se com ela e prosseguir de modo que, quando ela realmente chegar, não haja medo.

Ao estudar sobre a preciosidade e a raridade de nossa vida, reconhecemos que a vida está passando exatamente agora. Nunca mais teremos este dia. Esta enorme oportunidade passa rapida­mente e, então, tudo pára completamente. Quando o seu corpo acaba, sua preciosa vida humana acaba. Considerar a preciosi­dade e a impermanência da vida é um incentivo. Se existe algo digno de realizar aqui, realize-o.

(...) Considere novamente as oito preocupa­ções mundanas - buscar bens materiais e evitar sua perda, buscar o prazer e evitar o desconforto, buscar o elogio e evitar a culpa, manter a boa reputação e evitar a má reputação. A mente se torna descontente. Os budistas têm dificuldade de lidar com o descontentamento. Eles ficam irritados por estarem irritados, e isto foge ao controle. É muito útil manter uma atitude relaxa­da e ser apaixonado por uma coisa - a prática espiritual.

A meditação sobre a morte o ajuda a se livrar das pequenas preocupações que corroem seu potencial ilimitado. A medita­ção sobre a morte é um chamado para o despertar. O seu propó­sito não é assustá-Io com o que o bicho-papão fará a você depois da sua morte, mas fazê-lo ver as oportunidades que você tem agora, compreender que elas existem somente por um tempo limitado e que você deve aproveitá-Ias. Além disso, certifique-se de que aquilo que você está praticando é realmente o dharma e não uma das preocupações mundanas que, diante da morte, perdem todo o seu fascínio.

A meditação budista sobre a morte é composta de três partes:

A primeira é a meditação sobre a inevitabilidade da nossa própria morte. Podemos dizer que já sabemos disso. É fácil. Mas estamos atentos a isso? Se não estivermos, não a estaremos considerando em nossas decisões. Se não estivermos levando a sério a ine­vitabilidade da morte, então não acreditamos realmente nela.

Embora possamos viver de modo cuidadoso, haverá um tem­po em que a morte chegará. Ela se apresentará. E acontecerá. Aconteceu com Buda e com Jesus, e acontece com presidentes e reis. Rico ou pobre, mais cedo ou mais tarde você morrerá, e sua morte será somente sua. A inevitabilidade é a primeira das três partes da meditação sobre a morte. (...)

A segunda parte da meditação sobre a morte é que ela pode chegar a qualquer momento. Ela é imprevisíveI. Não marca um encontro. Os tibetanos possuem uma lista dos momentos em que a morte chega - no ventre, no nascimento, nos primeiros anos, na infância, na juventude, na adolescência, no adulto jo­vem, na meia-idade e na velhice -, qualquer momento é per­feito para morrer. Você pode morrer com boa ou má saúde, rico ou pobre, culto ou não. Um ponto importante para os ociden­tais é que você pode morrer antes ou depois de ter concluído seus projetos. A morte pode acontecer a qualquer momento. Qual a base para a confiança de que a morte poderá chegar, mas não para mim? Trata-se de um pensamento de desejo, nada mais. A segunda parte da meditação sobre a impermanência é a compreensão da imprevisibilidade da morte.

A terceira parte da meditação sobre a morte é prestar aten­ção ao que é de valor diante da morte. A morte faz parte da vida, não é uma antítese da vida. Com a conscientização da morte, qual é o valor da vida? Esta questão é a base sobre a qual o dharma (Caminho para Realidade Superior)  é definido. Com uma conscientização da sua própria mortalida­de, o dharma é o que existe de maior valor. O que tem valor - ­uma mente clara, um coração compassivo, um sentido de sabe­doria, equanimidade, paciência e clemência, servir aos outros? A meditação sobre a morte é a maneira mais direta de conferir e aprimorar os valores.

  
   Ao lermos o texto, vimos como é prejudicial o medo da morte que, instintivamente, trazemos conosco. O pavor que muitos temos de "perder" seus entes queridos ou deixá-los na terra nos é prejudicial, porque a vontade que temos que nós e os outros vivam é puro desejo, não é realidade. Não se preparar para a realidade é entrar em choque com ela quando ela vier.

    Se realmente sentíssemos mortais, seguiríamos o conselho do Cristo: deixaríamos a casa em ordem para quando chegasse o senhor. Faríamos as pazes com aquelas pessoas que estamos brigados; abraçaríamos nossos familiares e amigos e lhes diríamos aquilo que gostaríamos que ouvissem antes que se fossem; admitindo que a morte pode ser iminente, faríamos as coisas que realmente são importantes para nós; admitindo a realidade espiritual, procederíamos sempre de acordo com as soberanas Leis da Vida contidas no Livro dos Espíritos, a fim de não criarmos carmas negativos que nos prejudicassem nem a outrem.

   Quer um exercício simples para descobrir o que realmente você busca? Imagine-se andando pela avenida principal. Há uma casa com uma movimentação à frente. A porta está aberta, e tem um corredor. Entre no corredor. Note que ao fundo você vê pessoas e flores. Entre na sala. No centro da sala há um caixão. É um velório. As pessoas que estão na sala são suas conhecidas. Aproxime-se do caixão, ao ver o corpo, voce descobre que... é o seu próprio funeral. Nesse momento vão fazer a despedida antes do enterro. Quatro pessoas falarão, ao invés do padre. A primeira será o representante dos seus familiares. Procure escutar o que fala de você como foi com a família, o que dizem que lembram de você. O segundo a falar é o representante dos seus amigos. Escute-o. O terceiro é o representante de uma comunidade a qual você pertence, como o centro espírita ou um clube. E o quarto a fazer o discurso de despedida é um representante da comunidade. O que você gostaria que eles falassem nesse momento? Das pessoas presentes, quantas você tinhas questões mal-resolvidas que você não tentou encerrar? Existe alguém que você gostaria de ter perdido perdão? Que qualidades voce gostaria ouvir que tinha em vida? Escute... Esses são seus valores e anseios mais verdadeiros.

   Espero que o tema tenha servido para a melhoria íntima de vocês. Aproveitem as férias! Um abraço.