domingo, 6 de janeiro de 2013

PARE, OLHE, ESCUTE

    
   
    Na obra O Espiritismo na sua mais simples expressão, Allan Kardec afirma:

    "O objetivo essencial do Espiritismo é melhorar os homens, no que concerne ao seu progresso moral e intelectual."

    Nesse sentido, cita em O Evangelho Segundo o Espiritismo:

    "Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más."

    Por isso, convidamos a fazer o que a placa sugere: Parar, Olhar, Escutar. Estaremos utilizando o espiritismo para nossa transformação moral ou simplesmente estamos intelectualizando-o? Sabemos que direção seguir? Somos conscientes dos nossos objetivos espirituais, aqueles que a ferrugem não destrói, nem as traças corrompem? Porque vemos muitos espíritas buscando e buscando conhecimento - e isto é louvável, sem dúvida, principalmente por parte dos trabalhadores das instituições espíritas -, porém retendo este conhecimento mais a nível intelectual, não os convertendo em sentimentos, condutas morais e atitudes. Nesse sentido, Kardec comenta:

            "O saber nos eleva na hierarquia espírita, mas não contribui em nada para o restabelecimento da ordem perturbada pelo mau. O saber nada expia, nada resgata, em nada influi sobre a justiça de Deus: a caridade, ao contrário, expia e apazigua. O saber é uma qualidade, a caridade é uma virtude." (Revista Espírita, agosto de1860)

        Ou seja, de nada adianta o saber sem pô-lo em prática. O mestre de Lyon apontou este tipo de comportamento, quando definiu os tipos de espíritas:

     "(...) Vêm em seguida aqueles que aceitam a idéia, como filosofia, porque ela satisfaz sua razão, mas cuja fibra moral não é suficientemente tocada para compreender as obrigações que a Doutrina impõe àqueles que a assimilam. O homem velho está sempre aí, e a reforma de si mesmo lhe parece uma tarefa muito pesada; mas como eles não estão menos firmemente convencidos, e se encontram entre eles propagadores e defensores zelosos (do espiritismo)." (Revista Espírita, julho de 1866)

    Sendo mais fácil mudar o exterior que o interior, muitos de nós intelectualizamos as instruções espirituais - que nos emocionam, nos fascinam - porém não transformando as máximas do espiritismo em as máximas da nossa alma. Assim, o "homem velho" permanece em nós. Muitos dizem "é dificil ser espírita praticante, eu não consigo", referindo-se que não consegue êxito na reforma íntima, mas... existiria espírita não praticante, dado que o objetivo do espiritismo é a introjeção da moral filosófica no nosso modo de pensar, sentir e agir, para evoluirmos moralmente? Talvez a estes poderíamos dizer que são apenas leitores do espiritismo. E muitos trabalhadores espíritas damos toda atenção à disciplina, pontualidade, fidelidade doutrinária, qualidade nos trabalhos - tudo correto, mas exterior. É zelo, conforme afirmou Kardec. Temos amor pelo trabalho e pela doutrina, mas aquele empenho em "ser hoje melhor do que ontem, e amanhã melhor do que hoje", movido a base de força de vontade e perseverança, não logramos conquistar...

    As vezes, penso que haveriam somente dois livros espíritas que precisaríamos ler: O Evangelho Segundo o Espiritismo, que se deixássemos nossos corações se enternecer  com suas elucidações em torno da moral pregada por Jesus. O outro seria O Livro dos Espíritos, para dar apoio intelectual à fé, de acordo com a definição que o espiritismo possui uma fé raciocinada, ou seja, apoiada na razão. Lembro de Ghandi declarando que, se os cristãos seguissem o que está contido na página que contém os dez mandamentos, não precisariam ler o resto da bíblia.

    No capítulo XV do Evangelho Segundo o espiritismo, Kardec faz uma síntese dos comportamentos que Jesus nos ensinou para que atingíssemos a felicidade:
     "Bem-aventurados, disse, os pobres de espírito, isto é, os humildes, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que têm puro o coração; bem-aventurados os que são brandos e pacíficos; bem-aventurados os que são misericordiosos; amai o vosso próximo como a vós mesmos; fazei aos outros o que quereríeis vos fizessem; amai os vossos inimigos; perdoai as ofensas, se quiserdes ser perdoados; praticai o bem sem ostentação; julgai-vos a vós mesmos, antes de julgardes os outros. Humildade e caridade, eis o que não cessa de recomendar e o de que dá, ele próprio, o exemplo. Orgulho e egoísmo, eis o que não se cansa de combater. E não se limita a recomendar a caridade; põe-na claramente e em termos explícitos como condição absoluta da felicidade futura."

    Assim, Paremos, Olhemos e Escutemos nosso coração: O quanto do exposto acima já conseguimos? Sabemos quais aspectos nossa alma é mais deficitária, para priorizarmos esforços? E, principalmente, estamos empenhando para conseguir? Será que estamos sendo o espírita intelectual ou o espírita que utiliza o espiritismo para se melhorar e ascender evolutivamente?  De acordo com a resposta, poderemos seguir adiante nossos estudos, alimentando nossa fé raciocinada, na certeza que eles renderão belos frutos espirituais. Ou então, necessitaremos parar, olhar, escutar, a fim de redefinir nosso caminho para a construção da iluminação interior.

   Também Paulo nos convida à ação, ao cultivo e a aplicação das virtudes:

            "Levando-a por guia (a caridade), nunca o homem se transviará.(...) Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia e a despreocupação."
PAULO, apóstolo

    Por fim, a palavra de Emmanuel:
 
     "Lembrando o Codificador da Doutrina Espírita é imperioso estejamos alerta em nossos deveres fundamentais. Convençamos-nos de que é necessário:
Sentir Kardec;
Estudar Kardec;
Anotar Kardec;
Meditar Kardec;
Analisar Kardec;
Comentar Kardec;
Interpretar Kardec;
Cultivar Kardec;
Ensinar Kardec e
Divulgar Kardec.
     Que é preciso cristianizar a humanidade é afirmação que não padece dúvida; entretanto, cristianizar, na Doutrina Espírita, é raciocinar com a verdade e construir com o bem de todos, para que, em nome de Jesus, não venhamos a fazer sobre a Terra mais um sistema de fanatismo e de negação.
EMMANUEL
Página recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier
"Reformador", março de 1961, FEB.

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