segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Propriedades do Perispírito - (12) - BICORPOREIDADE, ODOR, TEMPERATURA

     Bicorporeidade é um termo criado por Kardec da notável propriedade do perispírito desdobrar-se (desdobrar = fazer em dois), no fenômeno de duplicação corpórea e bilocação. Fenômeno complexo e ainda de difícil compreensão, pode o perispírito, com essa propriedade, apresentar-se em outro local, de forma igual ao físico, fluídico, com maior ou menor densidade, suscetível de ser visto e até tocado, como ocorreu com Antônio de Pádua.

     Santo Antônio de Pádua estava pregando na Itália, quando seu pai, em Lisboa, ia ser supliciado, sob a acusação de haver cometido um assassínio. No momento da execução, Santo Antônio aparece e demonstra a inocência do acusado. Comprovou-se que, naquele instante, Santo Antônio pregava na Itália, na cidade de Pádua.

     Na bicorporiedade, enfim, o perispírito não se divide, e sim se desdobra, como o sol desdobra seus raios pelos recantos da terra, sem que precise se dividir em mil pedaços para brilhar.

    Por fim, o perispírito emite ODOR e possui TEMPERATURA.  Odores agradáveis são registrados pelos sensitivos na presença de bons espíritos, que igualmente relatam odores pútridos dos espíritos portadores de miasmas pestilentos. Quanto à temperatura, na atividade mediúnica é detectado frio pelo médium no contacto de entidades endurecidas e sofredoras, e calor nos de espírito elevado. Porém, se cada perispírito possui uma temperatura, isto não passa ainda de uma hipótese a ser estudada, porquanto possuímos apenas relatos mediúnicos e alguns testes com aparelhos feitos por pesquisadores.

Propriedades do Perispírito (11) - SENSIBILIDADE MAGNÉTICA

     O perispírito possui um campo de força que sustenta sua esturutura "semimaterial", sendo, assim, sensível à ação magnética.

     André Luiz esclarece que "...a mente é dínamo gerador de força..." (Ação e Reação, p. 34). A aura, ou psicosfera, ou fotosfera humana (termo empregado por Léon Denis), é um campo de força resultante de emanações de natureza eletromagnética, ao envolver todo o ser humano, encarnado ou desencarnado.

     Devido á sensibilidade magnética, torna o espírito suscetível às influências da energia do ambiente que o envolve. Esta propriedade lhe permite perceber, absorver, assimilar - e também transmitir - energia espiritual que capta ou recebe. Um exemplo positivo é o passe - o espírito conjuga suas energias com a do médium que transmite ao paciente, que as assimila. Outro é a prece, que resulta num influxo de energias espirituais de Mais Alto, a ser envolvida e absorvida pelo campo energético de quem ora. Um exemplo negativo é a náusea, palpitação, arrepios sentidos por ocasião da aproximação de entidades espirituais em perturbação, que emitem sua energia magnética deletéria. Podem, inclusive, absorver o campo energético de quem se aproximam, num processo mais conhecido como vampirismo.

     Resumindo, somos, em maior ou menor grau, capazes de sentir e assimilar a energia de locais ou pessoas (encarnadas ou não).

Nosso campo magnético (áurico)

Propriedades do Perispírito (10) - SENSIBILIDADE GLOBAL

     Quando encarnado, o espírito necessita dos órgaos dos sentidos do corpo para poder obter a percepção do meio. Olhos para ver, ouvidos para ouvir, língua para o paladar, principalmente os dedos para o tato e nariz para sentir os odores.

     Sem o corpo, o perispírito tem sensibilidade global, ou seja, a transposição dos sentidos que necessitamos fazer em cinco etapas, ele o faz em uma vez.

     Exemplo: um copo com um líquido em cima de uma mesa. Para saber a cor do líquido, necessitamos enxergar; para ver que cheiro tem aproximamos o nariz; para ver se é pesado precisamos levantar o copo, se o líquido é viscoso ou não mexemos com o dedo, para detectarmos a temperatura encostamos na pele e, por fim, para saber que sabor tem, o levamos à boca.

     Com o espírito, esta transposição de sentidos se dá de uma vez só: voltando sua atenção ao copo, percebe de uma vez cheiro, gosto, viscosidade, sabor, temperatura, cor, peso. Isto porque o perispírito não tem a sede dos sentidos em locais específicos - muito embora seja o corpo físico cópia do perispírito - ele, por assim dizer, sente com todo seu ser, com o corpo espiritual inteiro.

     Além do mais, os sentidos se apuram muito em relação ao encarnado, que tem a limitação dos órgãos. Vê coisas microscópicas como a longa distância, pecebe luzes, cores, sons, odores que seriam imperceptíveis ao ser humano, que tem uma determidada escala de vibrações que os órgaos registram.

     Por fim, cabe registrar que, como o pensamento é a linguagem do espírito, não precisa ouvir palavras ou avaliar gestos para saber o que outro espírito, encarnado ou não, pensa ou sente. Com sua sensibilidade global, ele ausculta a alma, e dependendo da sua elevação e prática, pode ter acesso aos menores escaninhos da alma. Mentira, só de encarnado para encarnado. Para os espíritos, estamos nus. Não adianta entrar com aquela cara de santo sofredor na casa espírita, ou na igreja, porque os espíritos nos vêem como somos.

domingo, 24 de junho de 2012

Propriedades do Perispírito (9) - CAPACIDADE REFLETORA


    Esta propriedade do corpo espiritual é admirável. Aproveite quem gosta de fingir enquanto está encarnado, pois o perispírito reflete contínua e instantâneamente os estados mentais. E, mesmo assim, o dissimulado fará seu teatro apenas aos encarnados, pois os espíritos vêem tudo o que seu perispírito reflete e, ainda mais, o que nele está arquivado: toda a memória das suas existências. O perispírito é um registro inapagável de nossos atos, pensamentos e sentimentos, consoante o ensinamento de Jesus que "não há um fio de cabelo que caia sem que Deus o saiba" - e que o perispírito e a memória universal registrem. Hermínio miranda, em "A Memória e o Tempo", discorre extensamente esta característica.

    André Luiz, em Libertação, elucida que o perispírito é suscetível de refletir, "em virtude dos tecidos rarefeitos de que se constitui", a "glória ou viciação"da mente. Por isso, a atividade mental "nos marca o perispírito, identificando nossa real posição evolutiva".

    O campo áurico, a energia imediatamente emanada pelo corpo, é marcado pelas colorações, formas e densidade das energias que geramos através de nossos pensamentos e sentimentos. A clarividente Barbara Ann Brenann, em seu livro "Mãos de Luz", ilustra o que observa no campo áurico das pessoas de acordo com seus sentimentos, seu estado de saúde, suas aspirações...


    Cabe destacar, ainda na capacidade refletora, as formas-pensamento. Enquanto pensamos, plasmamos as imagens no plano espiritual como uma holografia. Assim, por exemplo - e vamos nos utilizar de certa dose de humor para ilustrar - duas mulheres se encontram e dizem coisas como "olá querida, como você está ótima" ou "quanto tempo, que saudades", não seria raro um espírito observar em uma formar-se a imagem de uma bruxa voando e na outra ela vomitando, refletindo seus reais sentimentos, tratando-se, é claro, destas relações sociais de conveniência que não são alicerçadas no amor e na fraternidade.

Propriedades do Perispírito (8) - EXPANSIBILIDADE


    O perispírito pode expandir-se, aumentando o campo de percepção, em um grau que parte de um estágio inicial de desdobramento (desdobrar = dividir em duas - ou mais - partes, neste caso "descolar" o corpo espiritual do corpo físico, sem, no entanto, perder o contato com este, mantido até o desencarne por fios fluídicos perispirituais altamente maleáveis atados ao físico) até o desdobramento total.

    A expansão da sensibilidade é a base da maior parte das manifestações mediúnicas. Por exemplo, na clarividência e clariaudiência o médium vê e "ouve" o espírito através de seu perispírito. Outro exemplo são a psicofonia e a psicografia , possibilitada pela ligação perispírito a perispírito, onde o desencarnado pode se expressar através do corpo do médium ligando-se a ele não ao corpo, mas ao seu perispírito.

    Muito comum no processo de desdobramento a pessoa sentir-se inchando como um balão. Não raro isto é vivenciado no desdobramento natural pelo sono físico.

Propriedades do Perispírito (7) - TANGIBILIDADE E VISIBILIDADE


    O perispírito é completamente invisível aos olhos físicos.

    Mas é visível aos espíritos. Os menos adiantados percebem o corpo espiritual de seus semelhantes, porém só vêem os espíritos elevados se estes rebaixarem sua vibração com a intenção de se tornarem visíveis a estes.

    Através da mediunidade (vidência), o encarnado pode ver o perispírito do desencarnado. Enxerga-o através de sua alma, não através dos olhos físicos. Poucos são aqueles que tem as condições necessárias para distinguí-los perfeitamente, muitos tem percepção parcial (ex: rosto) ou "flashes" onde rapidamente vêem e perdem de vista o espírito. Caso o espírito se revista de energia ectoplasmática retirada do duplo etéreo de médiuns, torna-se visível ao olho humano, como esta foto em que o venerando Francisco C. Xavier aparece ao lado do espírito de nome Irmã Josefa, tendo como doador de energia o saudoso médium Peixotinho:

    O perispírito é perfeitamente tangível ao desencarnado, que o toca como fosse o corpo físico, pois ele estando na dimensão espiritual está em contato com a matéria,  ainda que para nós assaz rarefeita, porém é matéria tangível para quem vive nesse nível vibratório. Ao encarnado, pode tornar-se tangível nas mesmas condições descrita acima. Abaixo, vemos Irmã Josefa dando as mãos a Waldo Vieira e a um repórter que acompanhava a sessão de materialização:

sábado, 23 de junho de 2012

Propriedades do Perispírito (6) - PERENIDADE, MUTABILIDADE E UNICIDADE


    O perispírito é perene, isto é, não tem fim. É indestrutível, muito embora possa se degradar até a perda da forma humana (ver os "ovóides" descritos por André Luiz em "Libertação", por F.C. Xavier). A perenidade perispiritual é o maior tormento do suicida, que se vê mais vivo do que nunca após seu triste ato, e por mais que busque a aniquilação da consciência não consegue. Fomos criados pelo Pai com uma predestinação: a felicidade. A sabedoria divina defende o espírito doente do auto-extermínio, porque sabe que mais adiante o equilíbrio será recuperado.

    A mutabilidade do perispírito ocorre constantemente: quando reencarna, quando decai, quando se eleva, quando muda para outra "morada da casa do Pai"... Por exemplo, o espírito progride, sua densidade e peso diminuem, sua luminosidade aumenta, marcas perispirituais que trazia de experiências infelizes somem... Léon Denis esclarece perfeitamente a questão: " ... Esse corpo fluídico, porém, não é imutável; depura-se e enobrece-se com a alma; segue-a através das suas inúmeras reencarnações; com ela sobe os degraus da escala hierárquica, torna-se cada vez mais diáfano e brilhante para, em algum dia, resplandescer com essa luz radiante que falam as Bíblias (antigas) e os testemunhos da história a respeito de certas aparições."

    O perispírito é único, pois sendo a estrutura perispiritual o reflexo da alma, e a alma é única, pois é forjada no conjunto de experiências individuais adquiridas através das existências sucessivas. Como inexistem almas idênticas, inexistem perispíritos idênticos.

Propriedades do Perispírito (5) - PENETRABILIDADE

    
     Penetrabilidade perispiritual seria a capacidade do perispírito de atravessar a matéria do plano físico, embora seja ele constituído de matéria quintenssenciada.

    Para compreender facilmente a questão, vamos recorrer à química. Vejamos a ligação existente na pedra, exemplo do post anterior:



Podemos constatar que, embora a rocha nos pareça totalmente sólida, ela é, na verdade, porosa e cheia de espaços quando chegamos ao átomo. O átomo é composto pelo núcleo e os elétrons que orbitam ao seu redor, como a representação abaixo:
    A física quântica moderna nos demonstra o tamanho desse vazio. Supondo que o núcleo do átomo fosse uma bola de futebol, e se colocássemos essa bola no centro do estádio do Maracanã, os elétrons da camada mais próxima orbitariam em torno do núcleo "bola de futebol" por fora do estádio.
  

   Esta perspectiva nos revela que somos um imenso conjunto de vazios, com átomos unidos por cargas elétricas. Vejamos como muda a densidade molecular do sólido para o gasoso:
    Assim como a água penetra sólidos como tijolo e concreto, por exemplo, o perispírito, que é muito mais rarefeito que o gás, pode perfeitamente atravessar por entre os espaços moleculares atômicos da matéria densa.
   Talvez pareça que tenhamos nos estendido demais na explanação desta propriedade simples, porém, é importante que desapareça qualquer traço mágico ou místico no fato dos espíritos entrarem e saírem dos recintos sem dificuldades, de atravessarem tanto o lençol quanto o aço.

Propriedades do Perispírito (4) - LUMINOSIDADE


    Os espíritos esclarecem a Kardec ("O Céu e o Inferno, 2ª parte, cap. IV) o seguinte: "Por sua natureza, possui o Espírito uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma. Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do Espírito: as menores imperfeições morais atenuam-na e enfraquecem-na. A luz irradiada por um Espírito será tanto mais viva, quanto maior o seu adiantamento. Assim, sendo o Espírito, de alguma sorte, o seu próprio farol, verá proporcionalmente à intensidade da luz que produz, do que resulta que os Espíritos que não a produzem acham-se na obscuridade."


    Porque o espírito, dependendo do seu grau de adiantamento, irradia luz? Vejamos as pedras. Não irradiam luz e são muito sólidas. Mas, quando as vemos sendo expelidas do vulcão, sob a forma do magma (rocha derretida), a pedra está incandescente, emanando luz, e está maleável, densamente liquefeita. É porque está repleta de energia na forma de calor. Na medida em que perde energia calorífica, pois que não tem condições nem de gerá-la ou mantê-la, perde a incandescência, cessando a emissão de luz, e com suas ligações moleculares mais estáveis, se solidifica.



    Traçando um paralelo entre a rocha e o espírito, podemos dizer que o espírito "pedra" é denso, pesado, produz muito pouca energia que não seja densa e, assim, não tem condições de incandescer. Por ser plenamente identificado com a matéria, com o ser humano, seus cinco sentidos e as relações pessoais, pouco capta da energia etérea, mas vibrante, pulsante, abundante, amorosa, viva, quepermeia o universo. A medida em que avança moralmente e olha mais para a alma que para o corpo, identifica-se com o espiritual, com o transcendental, assim SINTONIZANDO com essas correntes energéticas, que passa a ser condutor, tornando-se, no nosso exemplo, um espírito "magma". Por essa fonte superior de energia ser inesgotável, incessantemente a capta e sua alma a emana, incandescendo; é como se a pedra readquirisse a energia que possuía quando estava no vulcão.


    Sri Sathya Sai Baba, um avatar (mestre) indiano desencarnado em 2011, ao responder a pergunta de como alguém poderia se tornar elevado como ele, respondeu com simplicidade: "Sabe quem é Baba? Baba é amor, é amor, é amor. Somos todos iguais, como uma lâmpada, mas Baba já construiu uma resistência de 150 watts e ilumina mais do que a irmã, que está pelos 25 watts."



    Em suma, quanto mais elevado o espírito, mais moralizado, mais amoroso; Deus é amor; o espírito, elevando-se em direção ao criador, capta as energias provenientes das altas esferas espirituais, e como uma lâmpada ilumina quando energizada, ele torna-se, como dito a Kardec, "seu próprio farol", iluminando-se e a iluminar.

domingo, 13 de maio de 2012

Propriedades do Perispírito (3) - PONDERABILIDADE

      Sendo o perispírito constituído de matéria sutil, quintenssenciada, ele possui um determinado peso, embora não tenha sido possível detectá-lo com nenhum instrumento pela ciência. Embora em 1907 o Dr. Duncan MacDougall, de Massachusetts, tenha feito experimentos com pacientes terminais colocando-os em uma balança e, após o momento da morte, obter um peso médio de 21 gramas que o corpo perdia, nada foi confirmado pela comunidade científica da época, tampouco da atual.

     Na dimensão espiritual, porém, cada organização perispirítica tem seu peso específico, que será maior ou menor de acordo com sua densidade, conforme vimos no post anterior. André Luiz nos traz a informação que "Nossa posição mental determina o peso específico de nosso envoltório espiritual e, consequentemente, o habitat que lhe compete" (F.C. Xavier, "Entre a Terra e o Céu, p. 126, cap XX). Pensamentos mesquinhos geram e aglutinam matéria espiritual densa e escura em torno da alma - mais peso; pensamentos elevados, espiritualizados, moralizados dão suavidade, leveza e brilho ao perispírito - menor peso.

     Emmanuel complementa que o perispírito "obedece as leis de gravidade, no plano a que se afina"(Roteiro, p. 33). Assim, podemos entender como o espírito desencarnado pode sentir-se chumbado nos pântanos umbralinos de psiquismo degenerado, ou naturalmente atraído para esferas superiores da vida espiritual, condizentes com sua condição mental, ou seja, moral.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Propriedades do Perispírito ( 2 ) - DENSIDADE

            "Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre unia modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores."
(Kardec, "A Gênese", Cap. XI, item 17)

    Kardec nos mostra que o perispírito é matéria, ainda que seja quintessenciada. E matéria tem densidade.

    Em física, a densidade consiste na relação entre a massa de um corpo e o volume que ocupa (d=m/v). Na prática, é igual ao seu peso específico. Num sentido mais geral, a densidade de uma grandeza exprime a quantidade desta existente por unidade de comprimento, superfície ou volume. Para exemplificar, vejamos a densidade de dois pães: cada um pesa 100 gramas, porém um mede 6 x 10 cm (60 cm cúbicos) e o outro mede 15 x 40 cm (600 cm cúbicos). Uma mordida no primeiro será de "encher a boca", enquanto o segundo terá mais ar do que massa.

     Assim é o perispírito: de acordo com o grau de adiantamento espiritual e do mundo onde habita, ele será mais ou menos denso.

    Bons pensamentos geram suave energia luminosa: é como colocar gás hélio num balão; ele sobe. Pensamentos de baixo teor moral, carregados de negativismo ou ódio, são densos, viscosos: é como colocar várias colheres de sal em um copo de água potável: a agua fica tão densa que um ovo bóia nela, como uma pessoa bóia no Mar Morto, que também têm excesso de sal na agua.

   Espírito evoluído, densidade perispiritual baixa; espírito vulgar, sensual, vingativo, densidade perispiritual alta. Evoluído, matéria rarefeita; baixa evolução, matéria densa a revestir o espírito.

    Por fim, como vamos parar, após o desencarne, nas colônias espirituais ou nos umbrais tenebrosos? Nossa densidade perispiritual se encarregará disso: subiremos como um balão, ou afundaremos como uma pedra. Deste modo, nós nos colocamos nos locais felizes ou não após o desencarne, dependendo daquilo que somos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Propriedades do Perispírito ( 1 ) - PLASTICIDADE

     O perispírito possui grande capacidade plástica (do grego plassein, exprime a característica dos materiais quanto a moldabilidade).

     É, talvez, na reencarnação que esta propriedade se sobressai. O espírito reencarnante sofre uma retração perispiritual ao ligar-se no corpo do bebê, perdendo a antiga forma física (cor, traços físicos, altura, sexo, etc...) e submetendo-se às leis da genética, em conjunto com o planejamento reencarnatório feito pelos Mentores Espirituais, que selecionam o espermatozóide que possua um DNA compatível com as principais características corpóreas que, por necessidade evolutiva, necessite manifestar.

    Nos processos de regressão, expontânea ou induzida, à medida em que o espírito revive a existência pretérita, o perispírito reassume a antiga forma. No livro "Dramas da Obsessão", escrito através da mediunidade sublime de Yvonne do Amaral Pereira, o Dr. Bezerra de Menezes, para auxiliar uma família de Judeus trucidada por Inquisitores psicopatas da Igreja, é auxiliado por um espírito que, em vida pretérita, fora judeu. Para aproximar-se dos familiares que no hoje tornaram-se verdugos implacáveis dos antigos algozes, reassumiu a forma e a aparência de judeu, com tranças, barba, roupagem preta, etc..

   Também na regressão hipnótica vemos o perispírito mostrar sua plasticidade. André Luiz, em Ação e Reação, mostra uma cena em que o chefe de uma falange de "justiceiros" hipnotiza uma mulher, devedora na última existência de um espírito que recorreu aos serviços desta organização. A hipnose, no entanto, não é comum: a mulher regride à forma de um lobo, forma que pertenceu na longa jornada evolutiva que passa pelo Reino Animal.

    A ideoplastia é viabilizada graças a plasticidade perispiritual. Um espírito pode alterar sua aparência, como em Loucura e Obsessão, onde o Dr. Bezerra acompanha um jovem com tendência homossexual que tenta resistir às investidas de um tio, que fora seu parceiro sexual no pretérito. O rapaz procurou auxílio em uma casa de umbanda, e, na ação conjunta da nobre entidade que guiava aquele humilde pedreiro que dedicava as horas vagas para o auxílio ao próximo, vemos o encontro de um Exú e uma Pomba-gira, dois seres deformados, com direito a chifres, pata de bode e outros ornamentos que os tornavam terríveis aos olhos dos homens (era o objetivo). A ideoplastia que aplicaram em seus perispíritos foi tão intensa que não se reconheceram senão após muita conversa: haviam sido escravos, marido e mulher, e a origem da dor estava na destruição da sua família pelos seus senhores.

Propriedades do Perispírito

 
Baseado na excelente obra "PERISPÍRITO", de Zalmino Zimmermann.
 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Mensagem de final de ano

"Semeie um pensamento,
e colha um ato;

Semeie um ato,
e colha um hábito;

 Semeie um hábito,
e colha um caráter;

Semeie um caráter,
e colha um destino"

(Marion Lawanse).

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

PERISPÍRITO


Perispírito (do gr. peri, em torno, e do lat. spiritus, alma, espírito) é o envoltório perene e sutil da alma, que lhe serve de intermediário para atuar na matéria física ou no plano em que se encontre.

Nomenclatura de conotação científica adotada por kardek, também é conhecido por nomes como psicossoma (André Luiz), corpo espiritual, corpo astral, mano-maya-kosha pelo Vedanta, de kamarupa pelo Budismo Esotérico, ka pelos egípcios, de rouach pela Cabala Hebraica, de eidôlon pelo tradicionalismo grego e de khi pelos chineses.

Sua composição é a mesma que dá origem ao corpo físico. Segundo Kardek, "O corpo perispirítico e o corpo carnal tem, pois, origem no mesmo elemento primitivo; ambos são matéria, ainda que em estados diferentes." (A Gênese, cap XIV). Sendo o Fluido Cósmico Universal a energia matriz que compõe o universo, o perispírito é uma aglutinação de fluido cósmico extremamente rarefeita em relação à matéria densa do corpo físico. Cabe ressaltar que, em sua dimensão energética, é matéria tão palpável para o espírito quanto o corpo físico é para o encarnado.

A natureza do envoltório sutil está sempre relacionada ao grau de adiantamento moral do Espírito. Etéreo e luminoso nos espíritos evoluídos, apresenta-se grosseiro, pastoso, parecendo ainda pertencer ao mundo físico naqueles espíritos movidos unicamente por suas paixões.

Além de ser a identidade da alma, pois registra até mesmo "um fio de cabelo que caia da cabeça do homem", é a matriz do corpo físico. Jacob Melo o denomina "Modelo Organizador Biológico". Podemos dizer que o corpo físico é uma aglutinação de matéria densa em torno do perispírito. Dá vida, organiza e vitaliza o corpo físico, que vem a perecer quando os laços fluídicos que o ligam ao perispírito são desfeitos.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Opinião de Divaldo sobre a enxurrada de livros "espíritas" no mercado

O movimento espírita tem sido invadido por uma enxurrada de publicações que trazem a informação de serem mediúnicas. Temos visto que os dirigentes, vários deles, não utilizam qualquer critério de seleção doutrinária. O que nos aconselha?

 "O nosso pudor em torno do Index Expurgatorius da Igreja Romana leva-nos, sem nos darmos conta, a uma tolerância conivente. Como não nos é lícito estabelecer um mapa de obras que mereçam ser estudadas em detrimento daquelas que trazem informações inautênticas em torno dos postulados espíritas, muitos dirigentes, inadvertidamente, divulgam obras que prejudicam mais a compreensão do Espiritismo do que aclaram.
É muito comum dizer: mas é muito boa! Mas, muito boa, porém não uma obra espírita e no que diz respeito à mediunidade, a mediunidade ficou tão barateada, tão vulgarizada, que perdeu aquele critério com que Allan Kardec a estuda em “O Livro dos Médiuns”.
O médium é médium desde o berço. Os fenômenos nos médiuns ostensivos começam na infância e quando têm a felicidade de receber a diretriz da Doutrina, torna-se o que Chico Xavier denominava com muita beleza: mediunidade com Jesus. O que equivaleria dizer: a mediunidade ética, a mediunidade responsável, criteriosa, a mediunidade que não se permite os desvios do momento, os modismos.
Mas a mediunidade natural pode surgir em qualquer época e ela surge como inspiração. O indivíduo pode cultivá-la, desenvolve-la naturalmente.
Vem ocorrendo uma coisa muito curiosa, pela qual, alguns espíritas desavisados, de alguma maneira, são responsáveis: se o livro é de um autor encarnado, não se lê, porque como se ele não tivesse autoridade de expender conceitos em torno da Doutrina. Mas, se é um livro mediúnico, ele traz um tipo de mística, de uma chancela, e as pessoas logo acham que é o máximo. Adotam esse livro como um Vade Mecum, trazendo coisas que chocam porque vão de encontro aos postulados básicos do espiritismo.
Entra agora uma coisa que é profundamente perturbadora: o interesse comercial. Vender o livro sob a justificativa de que as Casas Espíritas necessitam de recursos. Para atender as necessidades, vendem obras de autoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quando deveríamos cuidar de divulgar as obras do Espiritismo, tendo um critério de coerência.
Quando visitei Paris pela primeira vez, em 1967, eu fui ver e conhecer a Union Spirite Française que ficava na Rua Copernique, número 8. Era período de férias, agosto a setembro, praticamente a Europa fecha-se e a França, principalmente. A Union estava fechada. Chamou-me a atenção as vitrinas que exibiam obras: não tinha uma espírita. Eram obras esotéricas, eram obras hinduístas, eram obras de Madame Blavatsky. São todas respeitáveis, mas não temos compromisso com elas. O nosso compromisso é com Jesus e com Kardec, sem nenhum fanatismo e sem nenhuma restrição pelas outras obras, que consideramos valiosas para cultura, para ampliação do entendimento. Mas, temos que optar por conhecer a Doutrina que professamos.
Verificamos, neste momento, essa enxurrada perniciosa, porque saem mais de cinquenta títulos de obras pseudomediúnicas por mês, pelo menos que nos chegam através dos catálogos, tornando-se impossíveis de serem lidas. O que ocorre? Eu recebo entre 10 e 20 solicitações mensais, pedindo aos Espíritos prefácios para obras que ainda estão sendo elaboradas. A pressa desses indivíduos de projetar a imagem, de entrarem nesse pódium do sucesso é tão grande que ainda não terminaram de psicografar - quando é psicográfica - ou de transcrevê-la, quando é inspirada, ou de escrevê-la, quando é de próprio punho, de própria concepção, já preocupado com o prefácio. Eu lhes digo: Bom, aos Espíritos eu não faço solicitações. Peço desculpas por não poder mandar o prefácio desejado. Espere, pelo menos, concluir o trabalho. Pode ser que eu morra, pode ser que você morra e pode ser que o Guia reencarne antes de terminar a obra.
A um que insistiu muito, contei uma história dos tempos homéricos, das dificuldades entre palestinos e judeus. Um judeu caiu nas mãos de um Sheik que morava à borda do deserto e, de imediato, ele foi condenado à morte. Deveria ser enforcado daí a três dias.
A notícia foi mandada de oásis em oásis pelo deserto, e, no dia aprazado, uma multidão cercou-se da praça em que o judeu ignóbil ia ser enforcado. No momento azado, o Sheik perguntou-lhe se tinha algum pedido a fazer e ele disse:
— Tenho, sim. Tenho apenas um pedido. Eu desejo pedir ao nobre Sheik que me poupe a vida.
O Sheik disse:
— Mas é impossível, você é nosso inimigo! Nós somos primos pela nossa origem do Pai Abrahão, mas isto é impossível. Por que desejaria viver?
— Porque eu sei que o nobre Sheik ama muito os cavalos; os cavalos árabes são de sangue puro, são os melhores do mundo e eu sei que nobre Sheik tem um cavalo ao qual ama com enternecimento.
E continuou:
— A minha vida é inútil. Tive uma ideia, na minha condição de judeu que estudou a Torah e sabe do pensamento de Deus. Proponho-me a pedir um ano de vida para poder ensinar seu cavalo a falar.
O Sheik foi tomado de espanto:
— Mas, você garante que o meu cavalo vai falar?
— Sem dúvida. Se ele não falar dentro de um ano, ao terminar o prazo o senhor me mata, não perco nada. Vai me matar de qualquer forma.
O Sheik emocionado, aplaudido pelos súditos, mandou que o levassem à baia, que ele tirasse o cavalo e tomasse as primeiras providências, assistido por escravos que o vigiavam.
Ele ganhou um ano de vida e saiu eufórico. Quando atravessava a multidão, alguém disse:
— Mas, que judeu estúpido! Será que ele não está vendo que esse cavalo não vai falar nunca!
Ele sorriu e respondeu:
— Não sei. Mas eu ia morrer agora e ganhei um ano e em um ano muita coisa pode acontecer. Pode ser que eu morra, pode ser que morra o Sheik ou pode ser que o cavalo fale. Não perco nada!
Foi uma proposta extraordinária. Aí, adiantei para o médium: pode ser que eu morra antes do prefácio, pode ser que você morra ou o guia reencarne. É possível que o livro fique inconcluso.
É uma onda de perturbação para minar-nos por dentro. O Codificador nos recorda que os piores inimigos estão no próprio Movimento, o que torna muito difícil a chamada seleção natural. Nós deveremos ter muito cuidado ao examinar esses livros. Penso que as instituições deveriam ter uma comissão para lê-los, avaliar a sua qualidade e divulgá-los ou não, porquanto as pessoas incautas ou desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias verdadeiramente absurdas.
Tenho ouvido e visto declarações pessoais de médiuns que dizem não serem espíritas e não terem nenhum vínculo com qualquer “ismo”; são livres atiradores e as suas obras são vendidas nos Centros Espíritas, porque vendem muito. Até amigos muito queridos têm, em suas livrarias, nos Centros Espíritas que frequentam, essas obras que são romances interessantes, como os antigos romances de Agatha Christie, de M. Dellyt e tais. Mas essas obras não são espíritas, embora ditadas por um Espírito, mas ditadas ao computador.
Muitos perguntam: Divaldo, por que é que você não psicografa direto no computador? Eu digo: por carma. Eu já pedi a Joanna, por ser tão fácil, porque eu psicografo ainda, antes à lápis, agora à esferográfica? Tenho um calo. Depois eu tenho que digitar. É uma trabalheira. Insisti com Joanna: Por que a senhora não psicografa, me toma e escreve? Respondeu-me:
— Meu filho, no meu tempo não tinha computador. Era máquina, ainda, para ser desenhada no séc. XIX e não pretendo aprender computação agora.
E, sorrindo, ela me diz:
— Necessitamos do fluido nervoso, desse intercâmbio alma a alma, perispírito a perispírito.
Essas obras são muito interessantes, ninguém contesta, mas o tempo que se gasta, lendo-as, é um desvio do tempo de aprendizagem da Doutrina Espírita. As pessoas ficam sempre à margem, não se aprofundam. Observo, em nossa Instituição, pelas perguntas infantis que me fazem.
Ainda, há poucos dias, recebi um e-mail pedindo que eu interrogasse os bons Espíritos a respeito do seguinte: a pessoa era espírita, leu as obras de fulano, de beltrano e de cicrano, que não são espíritas e apesar disso é espírita e estava com muita dificuldade financeira. Tinha um pequeno capital e queria investi-lo para poder ter uma vida digna, sobreviver com a aplicação. Perguntava-me o que é que os Espíritos achavam dela construir um motel numa estrada para ganhar dinheiro.
Eu fiquei pensando: ou é brincadeira ou é um teste para avaliar meu equilíbrio. Deletei, é claro. Mas, serve para a gente ver a mentalidade: é espírita.
Um outro. Contou-me uma médica, que havia sido assaltada com o marido. Um grupo de cinco bandidos assaltara-os e levara-os a uma praia. Dois deles vieram à cidade com os cartões de crédito para retirar dinheiro e três outros ficaram, armados. Essa médica, espiritista realmente, vendo que os jovens estavam muito aturdidos, tentou uma comunicação qualquer. Percebeu que um deles era mais acessível. Quando os outros dois se afastaram um pouco ali na praia, começou a falar:
— Você tão jovem, por que está no caminho do crime?
Ele respondeu grosseiramente:
— Cale a boca, porque nós temos ordem de matar vocês. Quer retiremos o dinheiro, quer não, estamos esperando o telefonema para matar. Vou dar uma dica: na hora em que os colegas se afastarem, dá-me um soco, pegue uma pedra, faça qualquer coisa, me atire no chão e fujam, porque vocês vão morrer.
— Por que é que você está me dizendo isso?
— Porque eu sou espírita.
Era um ladrão espírita! Vejam que coisa!
— Eu sou espírita e frequento o Centro Espírita tal. Sou devoto do Dr. Bezerra de Menezes. O Dr. Bezerra até hoje me protegeu, a polícia não me pegou de jeito nenhum, graças aos passes que eu tomo no Centro Espírita. Tal a minha devoção ao Dr. Bezerra que quero retribuir, salvando a vida de vocês. Vou empurrar uma pedra para cá. Podem me jogar a pedra com força, eu desmaio e vocês fogem.
Ficou aturdida, os outros pareciam drogados, ele era um jovem de 19, 20 anos. Arranjou um jeito, o marido encontrou uma pedra, deu uma pedrada nele e saíram correndo. Perderam-se na escuridão.
Conseguiram salvar-se porque chegaram ao asfalto e receberam ajuda, foram à polícia, tomaram providencias. Foram feitos saques que não eram grandes.
Quinze dias depois, exatamente, ela estava no pronto-socorro, quando dá entrada um jovem que fora esfaqueado. Ela corre para o atender, era o ladrão espírita.
Ele pede:
— Doutora, não me denuncie. Lembre-se que salvei a sua vida.
— Não vou denunciá-lo, O que aconteceu com você?
— Acho que o Dr. Bezerra não está muito de acordo com minha vida e me deu esta lição. Eu vou sair do crime se a senhora me ajudar.
Quanta ingenuidade! Quanto desconhecimento do Espiritismo!
São os papa-passes, que acham que o passe resolve tudo. A responsabilidade é dos passistas, que aplicam os passes mas não esclarecem as pessoas quanto à necessidade da transformação moral para não precisarem de mais passes.
É necessário que procuremos divulgar a Doutrina, conforme nós a herdamos do íncílito Codificador e das entidades venerandas, que preservaram essa Doutrina extraordinária, para que nós possamos contribuir com a construção de um mundo melhor.
A respeito desses livros que proliferam, me causam surpresa, quando amigos com quarenta, cinquenta anos de idade, pessoas lúcidas, pessoas cultas, que nunca foram médiuns, ou, pelo menos, jamais o disseram, escrevem livros até ingênuos, que nem são bons nem são maus, e rotulam como mediúnicos e passam a vender, porque são mediúnicos.
Realmente, a questão deve ser muito bem estudada, inclusive, penso, que pelo Conselho Federativo Nacional para se tomar uma providência. Não de cercear-se a liberdade — não temos esse direito, mas pelo menos de esclarecer os leitores e procurar demonstrar quais são as características de uma obra espírita e as características de uma obra imaginativa.
Um dos livros mais vendidos, dito mediúnico, tem verdadeiras aberrações, em que a entidade fez do mundo espiritual uma cópia do mundo físico, ao invés de o mundo físico ser uma cópia do mundo espiritual. Inverteu, porque o Espírito está tão físico no mundo espiritual! E um Espírito do sexo feminino, que tem os fluxos catamênicos no mundo espiritual e que vai ao banheiro e dá descarga!
Outras obras, igualmente muito graves, falam de relacionamentos sexuais para promoverem reencarnação no Além. Ora, a palavra reencarnação já caracteriza tomar um corpo de carne. Como reencarnar no Além, no mundo de energia, de fluidos, onde não existe a carne? O Além, com ninhos de passarinhos multiplicando-se, em que as aves vêm, chocam e nascem os filhotinhos. Não é que estejamos contra qualquer coisa, mas é que são delírios, pura fascinação.
Acredito que alguns desses médiuns são médiuns autênticos. Ocorre que eles não perderam a mediunidade, a sua faculdade mediúnica é que mudou de mãos, daquelas entidades respeitáveis para as entidades frívolas que estão criando verdadeiros embaraços, porque em determinados seminários, palestras, fazem perguntas diretas e ficamos numa situação delicada, porque citam os nomes. Toda vez que dizem os nomes eu me recuso responder. Numa pergunta em tese muito bem, mas declinar nomes, não. Não tenho esse direito de levar alguém ao escárnio.
Dessa forma, o problema é mais grave do que parece, porque muitos também estão fazendo disso profissão, embolsam o resultado das vendas. Enquanto outros justificam obras de má qualidade, por terem um objetivo nobre: ajudar obras de assistência social. Os meios não justificam os fins."

A CASA DE JESUS

 

                Algumas considerações sobre ser cristão e ser espírita. Relato de Divaldo Pereira Franco.

                ... "Um espírita, nos moldes do cristão primitivo... Eu via os companheiros fazendo palestras (sem censurá-los) e, saindo dali, eram homens do mundo, pessoas comuns, agradáveis; tiravam seus largos períodos de férias, faziam “estação de águas”. Quando meditava sobre o Cristianismo primitivo, o que me empolgava era ver os ricos se tornarem simples; os poderosos se tornarem amigos. E então eu notava que muitos companheiros se tornavam espíritas e, simples que eram, ficavam presunçosos; pobres que eram, ficavam com “status” de ricos, sem ter os meios. isso me chocava muito, porque, se o Espiritismo é a revivescência do Cristianismo, conforme acreditamos, nós teríamos que viver à semelhança dos cristãos. Não é que se deva deixar as roupas e andar maltrapilho. Não é a postura externa, porque uma pessoa pode estar coberta de jóias e ser simples, e outra pode estar pedindo esmolas e ser orgulhosa... Mas, é que o Cristianismo tem que ser uma revolução interna, em que se veja, no próximo, a figura do irmão, realmente, e não a de alguém a quem estamos beneficiando.
                Nós já adquiríramos a “Mansão do Caminho”, o lar de crianças, àquele tempo, mas havia muita gente que me ajudava. Eu apenas auxiliava banhando os internos, como até hoje o faço.
                Então, um dia, pensei:
                — Meu Deus! Todo mundo só pensa em fazer obra para quem vai viver; a maternidade, a escola, o hospital, a creche, etc. — e para quem vai morrer? Se nós cremos que a vida continua, temos que preparar a pessoa para a vida que irá enfrentar.
                Eu passava de ônibus ou de bonde e via as pessoas dormindo embaixo das marquises. Isso me provocava uma grande dor e dizia-me a mim mesmo: estão morrendo! Por que os hospitais não possuem um lugar para acolhê-los, nem a Santa Casa de Misericórdia, sequer?
               Foi quando sonhei em fazer uma obra que fosse um desafio para minha juventude. Não pensei em uma obra para os outros trabalharem e, sim, para eu próprio trabalhar. Porque é muito cômodo construir uma obra para os outros se esforçarem, e os fundadores ficarem de longe. Assim, imaginei uma casa para se morrer.
                Um dia, conversando com Chico Xavier, propus-lhe:
                — Pergunte ao Dr. Bezerra o que ele acha dessa idéia.
                O Dr. Bezerra informou-nos, então, que seria ideal um trabalho de tal natureza, porque as pessoas pensam muito em obras, fazer construções e plantas e mil coisas e, enquanto estão discutindo, “a caridade chega atrasada”. Durante o tempo em que se está planejando, os pobres estão morrendo. Então, vamos começar atendendo o pobre no fogão de tijolo, até o dia em que possa ter o elétrico.
                Viajei a São Paulo para uma série de palestras. Estava numa reunião quando contei esta minha idéia, mas não dispunha dos meios para concretizá-la. Uma senhora presente sensibilizou-se com o projeto e, para minha surpresa, falou:
                — Senhor Divaldo, eu sempre desejei ser útil. Sou uma mulher muito rica, da sociedade, e mesmo que eu queira visitar os pobres, mesmo que eu queira ir à favela, o meu marido nunca o permitiria, criando um problema doméstico. O senhor tem vontade de fazer isso e não tem o dinheiro. Eu tenho o dinheiro e a vontade, e não posso fazê-lo. Então vou dar-lhe os recursos para que o senhor concretize esse trabalho. Quanto será necessário para adquirir uma casa como a que necessita?
                Eu havia imaginado uma casa dentro do mangue, da invasão, dentro da lama do mar. Respondi-lhe:
                — Vinte mil cruzeiros. (Vamos dizer que essa quantia corresponda hoje a duzentos mil)
                Ela abriu a caderneta, preencheu um cheque e mo entregou.
                — Aqui está. Agora o problema é com o senhor.
                Vejam as bênçãos da Divindade. Cheguei a Salvador, fui à região da invasão e encontrei uma tapera. Uma ruína de taipa (feita com varas e barro), dentro da lama. Porque eu queria um lugar onde se pudesse levar uma pessoa em quase decomposição... Num lugar muito arrumadinho, o pobre não pode cuspir à vontade.
                Coloquei à porta uma tabuleta com o nome: CASA DE JESUS.
                Tinha dois quartos, uma saleta e uma cozinha que é um “cochicho” (uma palavra baiana), que era um nada. E deveria ficar sempre aberta.
                Saímos e fomos recolher os que dormiam em baixo das marquises. Recolhemos um epiléptico. Ele teve tantas crises de epilepsia que ficou deformado; sofria de artritismo e reumatismo e consolidou várias juntas — não dobrava o corpo. Chamava-se André. Vivia em constantes crises convulsivas. Tinha uma ferida na cabeça que não cicatrizava. Colocamos até creolina para que os bichos saíssem.
                Eu era uma pessoa sensível. Nasci num lar modesto, mas asseado. Isso me dava uma repugnância de estômago — pela falta de hábito. Eu fazia os curativos engulhando e até vomitando, às vezes.
                Depois, ele, como epiléptico, na crise, perdia o controle dos esfíncteres. Eu e Nilson o lavávamos. Nós, com alguns amigos, dávamos os plantões noturnos.
                Apareceu-nos uma senhora, Dona Antônia Vilas-Boa. Ela me propôs:
                — Durante as horas em que vocês estiverem trabalhando, eu passo aqui para cozinhar, tomar conta da casa. Vou convidar umas amigas que freqüentam o “Caminho da Redenção”.
                Assim, duas ou três senhoras, pobres como nós, passavam o dia, enquanto nós, os homens, passávamos a noite. A casa ficava aberta vinte e quatro horas.
                Depois, veio um outro doente, que era psicopata e tivera um derrame cerebral. Em seguida, veio uma senhora que eu encontrei na rua. Foi a cena mais comovedora da minha vida.
                Essa mulher teve varíola e a amputação de uma perna, com câncer. Eu a vi atravessando a Praça Municipal, pulando, segurando-se a um pau, à guisa de apoio. Fui até ela, peguei-lhe o braço, coloquei-o em meu ombro. Havia um rapazinho moreno ao seu lado, em silêncio
                — A senhora quer ajuda? — indaguei-lhe.
              — Quero, sim, senhor!
                Ela havia saído do hospital de isolamento e ia para um bairro muito pobre, muito longe, teria que tomar o bonde.
                Observando-a, a saltar, com tanta dificuldade, pensei Meu Deus! Como é que essa criatura vai pegar o bonde, depois de sair do hospital neste estado?
                Olhei ao redor e vi um táxi. Eu nunca havia usado uni táxi, porque não podia. Fui até o chofer e perguntei-lhe pei quanto a levaria até a casa. Ele falou uma quantia que eu não tinha e eu lhe disse.
                  — O que é? — indagou-me.
                  — É para levar aquela senhora ali.
                — O que ela é sua?
                — Nada, encontrei-a agora — esclareci.
                O chofer me olhou e respondeu:
                — Se você pode fazer a caridade, por que eu também não posso? Quanto é que você tem?
                Eu tomei do que tinha e lhe entreguei. Ele recebeu-o, dizendo:
                —Você dá a sua parte e o resto fica por minha conta.
                Eu a coloquei no carro com o rapazinho e fomos até aonde o carro pôde ir. Quando chegou no ponto em que os buracos impediam a sua passagem, descemos e eu a carreguei. O rapaz ao lado, assistindo a tudo em silêncio.
                Levei-a até uma “avenida” de casas — um beco de casas, uma viela. Ela me apontou uma casinha humilde e quando chegamos em frente, uma moça veio à janela e falou:
                — Aqui você não entra, para não contaminar meus filhos.
                A mulher começou a chorar. Aquela que a expulsava de casa era uma filha de criação, e o rapaz era o marido dela.
                Eu a colocara no chão e fique/parado, pensando: e agora, para onde vou levá-la?
                Então lhe expliquei:
                — Se a senhora não tem para onde ir, eu tenho onde levá-la. Eu tenho a “Casa de Jesus”, mas o máximo que lhe posso dar é uma cama “patente”, um colchão de palha, a comida e nada mais.
                — Meu filho, eu estou na rua. Não tenho para onde ir.
                Era uma mulher que me pareceu fina pela forma que falava. A “filha” pegou uma mala e jogou-a na rua. Eram os únicos bens daquela criatura. Eu chamei o táxi; o chofer estava parado, olhando de longe a cena.
                Carreguei-a de volta ao carro e levei-a para a “Casa de Jesus”. Foi a primeira mulher. Só havia homens internados. Essa criatura veio a morrer nos meus braços. Sabem de quê? Vitimada por lombrigas. Morreu asfixiada. Foi a morte mais terrível que eu já vi. Estávamos conversando, ela começou a tossir e expeliu uma lombriga. Aí começou a vomitar. Eu fiquei apavorado, peguei-a pelas axilas, levantei-a, mas ela morreu asfixiada, pois as lombrigas saíam pelo nariz, por todos os orifícios naturais. Tive um choque tremendo; eu não pude fazer nada. Em momentos, ela morreu. Teria sido salva, possivelmente, com um purgante de óleo, se nós soubéssemos.
                Essa mulher, antes de morrer, um dia, me disse:
                — Pegue ali a minha mala e abra-a.
                Eu a abri. Dentro havia um álbum de fotografias. Por incrível que pareça, essa mulher tinha sido Embaixatriz do Brasil no Egito, na Tchecoslováquia, no Uruguai... Havia sido esposa de um Embaixador, no passado, e terminou os seus dias terrenos numa situação dessas, porque a vida é muito incerta.
                Vivíamos ali, na miséria com os miseráveis. Eu tinha um salário, o Nilson também, tínhamos a casa de meus pais, onde morávamos, mas dávamos tudo o que recebíamos, já que pedíamos a outrem — porquanto fica muito fácil fazer a caridade pedindo aos outros, a gente só entra com o sorriso e a simpatia — por isso, nós vivíamos ali, comendo a mesma comida, pois o dinheiro não dava para que fôssemos comer em outro lugar. Havia alguns poucos amigos que participavam deste trabalho, entre os quais o confrade Augusto Soares.
                Uma noite, eu me encontrava muito sofrido. Tínhamos dezesseis doentes, os colchõezinhos espalhados, tomando todo o espaço disponível. Eu estava pensando: o que vamos fazer? Nessa hora, o Dr. Bezerra me apareceu e contou uma história muito bonita.
               Duas damas (disse ele), muito ricas, da sociedade de Moscou, foram ao Teatro Bolshoi. Assistiram a um peça, uma ópera, que retratava a história de um rei cristão que termina louco. As duas ricas damas, vendo aquela cena choraram, comoveram-se e todo o teatro também. Quando terminou, elas saíram e encontraram um homem, à porta, pedindo esmola. Uma delas, comovida, tirou o pesado casaco de peles para dar-lhe, pois ele estava sofrendo o frio da noite de Moscou. A outra, porém, impediu-lhe o gesto, explicando:
                — Não faça isto! Quando chegarmos a casa mandaremos cobertores. Seu casaco é muito caro, ele não vai valorizá-lo.
                Ela deteve o gesto bom e concluiu:
                — De fato, você tem razão. Vamos fazer como sugeriu.
                Vestiu o casaco novamente, dizendo ao homem: — Daqui a pouco eu lhe mandarei cobertores e agasalhos.
                Entraram na carruagem e foram para o palácio. Ao chegarem, tomaram chá com biscoitos, deitaram-se e esqueceram o necessitado. Pela manhã, a dama generosa lembrou- se do mendigo e chamando um lacaio recomendou-lhe que levasse os cobertores. Quando este chegou ao local o homem estava morto. Morrera congelado pela madrugada.
                O Dr. Bezerra concluiu:
                "Enquanto se discute a caridade, o sofredor morre ao abandono. A caridade tem que ser o socorro do momento, depois discute-se o que se fará. Não fiques triste. Prossegue, assim mesmo, e confia."
                A “Casa de Jesus” me ensinou a trabalhar, a dar banho em doentes, a atender diretamente os enfermos. André ficava totalmente imobilizado e fazíamos tudo para atendê-lo. O outro, hemiplégico, chamava-se Aloísio, também era carregado.
                Durante três anos mantivemos a casa. Numa maré do mês de agosto, que é muito forte, as águas subiram e derrubaram a casa. Tiramos os doentes, rapidamente. Lá no “Caminho da Redenção",  o prédio possuía vários quartos e ali os alojamos, porque a maré tombou a casinha e o terreno sumiu...
                Um dia, quando cheguei para a reunião, Aloísio estava na crise de nervos; aproximando-me dele, perguntei-lhe:
                — Como vai, Aloísio, está melhor?
                Em meio à crise, num acesso de raiva, ele pegou o urinol e derramou-o na minha cabeça. Naturalmente me veio uma reação, mas, eu pensei, ele é um doente mental.
                Tive que ir me limpar e trocar de roupa.
                Depois, quando se iniciou a “Colônia da Fraternidade”, no bairro de Pau da Lima, já não podíamos cuidar deles em outro local. Levamos Aloísio e o colocamos numa casinha. Ele morreu em nossos braços. Assim, nós nos preparamos para esse Cristianismo de ação.
                Agora, as tias já estão ficando idosas. Oito anos atrás, uma delas teve um derrame cerebral.  Quase sempre, aquela que colaborou, quando idosa, é colocada em asilo. É muito cômodo! Lá, na Irmã Dulce, eu creio conseguir as vagas possíveis, no asilo de velhos, pois penso que não me seriam recusadas. Mas, eu reflito que, se elas ajudaram a criar as nossas crianças, agora é a hora de tomarmos conta delas, enquanto viverem.
                Uma coisa comovedora ocorreu. Uma das meninas que ela criou, a Verinha, que já está com dezoito anos, me informou:
                — Tio Divaldo, eu fico ajudando a tia Marieta.
                Nós temos uma enfermeira, funcionários, é só chegar e mandar fazer o necessário, mas eu tenho que dar o exemplo. Porque é muito fácil amar a pessoa bonitinha, sendo difícil amar o aleijado, o feio, o doente. Eu comecei, também, a tomar conta dela, pois eu já adquiri o hábito de tratar os doentes. Para mim, este é o Cristianismo que me faz bem. Pregar é muito fácil, cuidar de crianças é muito gratificante porque nos agrada muito, mas, a Caravana “Auta de Souza”...
                Certo dia, Auta de Souza falou:
                — Meu filho, eu quero que você vá visitar os pobres da invasão.
                Assim, passamos a ir, levávamos sacos de queimados (balas) e distribuíamos. Hoje, nós temos cento e setenta famílias, porém, famílias irrecuperáveis, de hansenianos, de cegos, paralíticos, doentes, loucos. Acompanhamo-los até a hora da morte e fazemos o enterro: a primeira coisa que as velhinhas pedem, é que não sejam jogadas na vala, enroladas em lençol; pelo menos um caixãozinho...
                Temos que convidar os companheiros (não é que todo mundo vá dar banho em pobre, não é isso) para a ação da caridade vivida, numa experiência que fará muito bem a nós mesmos. Devemos lidar com os loucos, os obsidiados, os feridos, os ingratos, porque com os demais a gente recebe a gratificação, nessa convivência agradável que estamos tendo. Está desaparecendo tudo isso, porque o espírita está ficando muito intelectualizado.
                  Isto, a mim, me fascina esse ângulo do Cristianismo, porque aí não há ninguém para competir conosco, não há ninguém para ter inveja, para falar mal, porque ninguém quer ir lá, à lama.
                O exemplo de Chico Xavier a vida inteira é digno de aplauso, porque ele atendia na peregrinação com aquele povo todo, mas, os mais graves, os piores, ele visitava sozinho, nas noites de quinta-feira. Como eu faço as minhas visitas, nos buracos de Pau da Lima, de noite, escondido até do pessoal da “Mansão”, para que ninguém vá comigo, porque, senão, quem faz a caridade são eles e não eu. E quando é que eu vou fazer a caridade? Se eu peço, as pessoas generosas dão e eu aplico isso para os que necessitam, mas esta é a caridade daquelas pessoas. Quando é que eu vou fazer a minha caridade pessoal?! Que não tem que ser, necessariamente, com dinheiro. Portanto, eu vou lá, tenha visitas em casa ou não. Fazemos os Natais todos, mas, depois, de madrugada, escondido, sozinho, eu saio com os meus pacotes para ir aos meus doentes — se é que posso chamá-los assim. Se eu for com a turma toda é uma beleza, mas é uma festa! E eu estaria exibindo os meus necessitados. Por isso, muita gente me vê, mas não me conhece."